segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Fernando Pessoa



AUTOPSICOGRAFIA



O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente,
O Poeta chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não tem.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de cordas
Que se chama coração.

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